O vocalista dos Low fala ao STROBE sobre a banda e o casamento.
Ones And Sixes foi um dos melhores álbuns do ano, “DJ” uma das nossas canções favoritas e, ao longo de mais de vinte anos de carreira, os Low fizeram tanta boa música que seria possível fazer um top 100 à volta deles. O STROBE esteve à conversa com Alan Sparhawk, guitarrista e vocalista dos Low, sobre o percurso de uma das mais únicas e prestigiadas bandas norte-americanas da atualidade.
Já fazem isto há mais de vinte anos, é muito tempo. Comparando com o início, e vendo a forma como foram evoluindo, estás satisfeito com o sítio onde a banda está agora, tanto em termos da música como de fãs? Há alguma coisa de que te arrependas, que poderia ter sido feita de forma diferente e que teria colocado a banda noutra posição?
Temos tido muita sorte. Começámos numa altura em que as pessoas estavam entusiasmadas em relação a música nova e a concertos, mesmo que não conhecessem as bandas que iam tocar. Ainda não havia internet, por isso as pessoas aprendiam vendo e fazendo por si mesmas e contando aos amigos o que descobriam, de pessoa para pessoa. Estávamos a fazer música que era muito diferente daquela que a maior parte das bandas estava a fazer na altura, por isso os nossos fãs foram crescendo lentamente, mas são uma base forte, que nos segue e respeita por tudo o que fazemos. Às vezes parece que seria divertido ter mais sucesso, mas acho que não teríamos feito tudo o que fizemos se tivéssemos um grande êxito ou fossemos uma banda mais na moda. Consigo olhar para trás e ver coisas que podíamos ter feito de forma diferente, mas às vezes não saber o que estávamos a fazer provavelmente ajudou-nos a crescer de formas que não podíamos ter planeado. Gostava que tivéssemos gravado mais concertos. Há alturas, quando já estamos em digressão há algum tempo, em que começam a acontecer coisas em palco que nunca são capturadas em estúdio. Estes são os nossos melhores momentos, e gostava que mais pessoas os ouvissem.
Os Low têm muitos fãs que acompanham a banda há vinte anos e muitos que se apaixonaram pela vossa música mais recentemente, quando a banda já tem um grande catálogo. Isso deixa-os, imagino, numa posição confortável: os fãs que têm são fãs a sério, que vão continuar a ouvir independentemente do que façam. Isto faz com que não sintam tanto a pressão de editoras ou do desejo de ter músicas no top 10? Por outro lado, provavelmente faz com que seja mais difícil viver da música, sobretudo com as baixas receitas do streaming e com as pessoas a comprar menos CDs… Ou seja, é mais fácil ser uma banda na vossa posição agora, alternativa, do que era há vinte anos, ou é mais difícil ser os Low hoje em dia?
Explicaste a situação muito bem. Tivemos a sorte de construir uma base de fãs lentamente, enquanto desenvolvíamos o que fazemos ao longo do tempo, nunca famosos mas o suficiente para podermos continuar. Da posição em que estamos agora, é certamente mais fácil do que seria se estivéssemos a começar. Acredito que boa música e dedicação acabam por sobrepôr-se ao ruído, mesmo com as redes sociais hoje em dia. Há menos dinheiro para bandas e editoras pequenas, e menos pessoas vão a concertos mais pequenos, por isso provavelmente é mais difícil agora do que quando começámos. Era suposto a tecnologia tornar tudo mais fácil, mas é só um novo tipo de difícil.
Com um catálogo tão grande, como é que decidem o que tocar ao vivo? Tentam encontrar um equilíbrio entre o que vocês querem tocar e as pessoas querem ouvir?
Sim, normalmente estamos mais entusiasmados para tocar material novo. Cada grupo de canções passa por um ciclo – primeiro é novo e ainda estás a tentar perceber o código, depois gravas e toca-las no seu pico de relevância, e depois ao longo do tempo cada canção ganha a sua própria história e carrega camadas de emoção e peso por ter sido tão tocada – às vezes saindo prejudicada, outras transformando-se em algo completamente diferente. Há coisas antigas que tocamos imensas vezes, em grande parte porque sobreviveram e continuam a crescer a cada noite. Tocamos a “Murderer” quase todas as noites – parece que há sempre inspiração nova para essa música. Tocamos pedidos e favoritos, mas há tantos…
As tuas letras não são transparentes. Consegue-se perceber o tema e entende-se o quão pessoais são, mas a maior parte das vezes não são específicas. Isto é algo propositado ou é só a forma como as canções fluem quando as escreves? Recentemente tu e a Mimi disseram que às vezes só sabem do que é que um álbum fala depois de o terem concluído, o que é muito interessante.
Acho que aprendi muito cedo, mesmo como adolescente, que as letras de canções não têm de contar a história toda para que ecoem junto do ouvinte. Quando o Roger Waters canta “Can you show me where it hurts?” eu não preciso da história toda. Não preciso de saber quem me está a perguntar ou sequer qual a resposta, mas durante esse momento, o universo colapsa enquanto percebes que estás magoado. As melhores canções deixam espaço para que o ouvinte faça delas suas.
Tu e a Mimi são casados e são a base da banda há mais de vinte anos e ela disse recentemente que, por esta altura, já se torna difícil distinguir a banda do vosso casamento. De que forma é que um influenciou o outro? E quão difícil é conciliar a banda com o facto de serem pais? É mais fácil ou difícil do que antes?
Essa é uma pergunta muito vaga para um tópico muito abrangente. Não há forma de lhe responder sem dizer o óbvio: estamos numa banda e somos pais. Ambos se influenciam mutuamente. Algumas das nossas músicas são sobre ser pais e/ou enfrentar um mundo no qual é difícil criar uma criança. Estar numa banda pagou as contas e alimentou os nossos filhos. Talvez até nos tenha dado uma perspetiva abrangente da vida. Ao mesmo tempo, andar em digressão às vezes afasta-nos deles, o que não é nada fixe.
A simplicidade pela qual a vossa banda é conhecida, o estilo slowcore… Foi algo propositado quando começaram? Decidiram de propósito ir contra o estilo mais predominante na altura, ou foi algo inconsciente?
Sim. Em parte foi para contrariar, mas estávamos genuinamente interessados no minimalismo e no movimento lento.
Há elementos que os Low têm em disco que parecem impossíveis de replicar ao vivo. Quão difícil é encontrar a forma correta de tocar cada música? Já vos passou pela cabeça expandir a banda de forma a que pudessem replicar melhor as músicas conforme estão em disco?
Baseamos tudo à volta de sermos apenas três em palco. No estúdio adicionamos coisas e às vezes fazemos versões diferentes, mas o desafio de mantermos tudo apenas entre nós os três tem-nos feito bem. Talvez fôssemos mais populares se adicionássemos mais músicos em palco, mas aí começávamos a soar como todas as outras bandas.
Há algum disco de que te orgulhes mais?
Não tenho nenhum favorito.
Achas que ainda há coisas que os Low não fizeram ou sítios onde não chegaram?
Após cada disco, parece sempre que estou vazio – que já não resta nada em mim. Mas depois algumas ideias de músicas começam a flutuar e a apontar para coisas que precisam de ser cantadas, e lá vamos nós a perseguir o próximo projeto…
Achas que o futuro é prisões e matemática, como diz a canção?
Sim. No futuro, ou vais estar a contar o dinheiro de outra pessoa, ou na prisão.