Na última sexta-feira, os Pearl Jam foram uma das bandas a ser introduzidas no corredor da fama do rock. Mas terá a instituição feito as escolhas certas ao longo dos últimos anos?
O Rock and Roll Hall of Fame é uma instituição baseada em Cleveland que foi criada há pouco mais de 30 anos com o objetivo de homenagear e recordar os nomes que marcaram o rock, sejam eles artistas, produtores, engenheiros ou outras figuras de relevo ligadas à indústria. Todos os anos, existe uma cerimónia onde a organização introduz meia-dúzia de históricas bandas e artistas no Hall of Fame e foi nesta última sexta-feira, dia 7, que se realizou a cerimónia de 2017. O critério principal para a entrada no corredor da fama é a de que o disco de estreia do artista/banda em questão tem de ter sido lançado há pelo menos 25 anos atrás. A cerimónia deste ano foi certamente marcada pela indução dos Pearl Jam, uma das principais bandas do movimento grunge do início da década de 90 e um dos grupos de rock mais relevantes desde então, vendendo milhões de discos e encabeçando festivais por todo o mundo fora. Para além da banda de Eddie Vedder, este ano foram admitidos os seguintes nomes: Electric Light Orchestra, Joan Baez, Journey, Tupac Shakur e Yes.
Uma das coisas que saltou à vista na banda de Seattle foi a t-shirt que o baixista Jeff Ament usou durante a cerimónia e que homenageia inúmeros grupos e artistas que, por uma razão ou outra, não se encontram inseridos no corredor da fama do museu de Cleveland. Aproveitando a ocasião e motivado por este gesto de Ament, decidi juntar uma curta lista com alguns dos artistas que provavelmente já mereciam uma maior consideração por parte do Rock and Roll Hall of Fame. Aqui vai:
Joy Division
A banda britânica liderada por Ian Curtis dispensa qualquer apresentação. O período de vida dos Joy Division foi bastante curto, mas os dois álbuns que editaram (Unknown Pleasures e Closer) foram imensamente marcantes para as gerações de músicos que se seguiram, não só influenciando bandas da sua época como os U2 ou os The Cure (outro grupo que já merecia uma distinção), como sendo também uma das principais bases e inspirações para o movimento revivalista de pós-punk que invadiu o mundo do rock alternativo no virar do novo século, marcando o trabalho de grupos como os Interpol, The Strokes ou Editors, por exemplo. Para além dos Joy Division, não era totalmente descabida a ideia dos New Order (banda formada pelos membros Peter Hook, Bernard Sumner e Stephen Morris após a morte de Curtis) entrarem na lista de honrados do corredor da fama. No entanto, se nem a banda-mãe mereceu essa distinção, menores são as chances de que o grupo seminal de new wave tenha sequer essa oportunidade.
Iron Maiden
Honestamente, nem sequer equacionei a ausência desta banda do corredor da fama do rock. Os Iron Maiden não só foram uma das bandas mais influentes de sempre de heavy metal, como apresentam uma gigantesca popularidade entre fãs (já venderam mais de 90 milhões de discos em todo o mundo) que muitas das bandas por entrar no Rock and Roll Hall of Fame (ou até alguns dos artistas que já lá estão) nunca conseguiram ter. A banda britânica apresenta estatuto de eligibilidade há mais de uma década e, de forma inexplicável, nunca esteve entre os nomeados finais de cada um dos processos anuais de seleção.
Pixies
Se existe uma banda de rock alternativo cuja presença no corredor da fama deveria ser garantida, essa banda seriam os Pixies. Apesar de não terem sido um grande sucesso comercial na sua época, o quarteto de Boston ganhou uma legião de fãs com o passar dos anos, culminando numa reunião do grupo em 2004 que originou uma enorme e lucrativa digressão mundial. Apesar dos álbuns editados recentemente, já sem a contribuição da baixista original Kim Deal, não terem correspondido às expectativas de críticos e fãs, os quatro primeiros discos da banda (editados de forma sucessiva entre 1988 e 1991) são considerados peças fundamentais do rock alternativo do final do século passado (especialmente, Surfer Rosa e Doolittle). Afinal de contas, Kurt Cobain referiu uma vez que o maior sucesso da banda, Smells Like Teen Spirit, foi uma tentativa de a sua banda, os Nirvana, soar tal e qual como os Pixies.
Kraftwerk
Está certo que os Kraftwerk não são propriemente uma banda de rock, pelo menos no seu sentido e definição tradicionais. Foram, no entanto, figuras centrais do krautrock germânico e a influência que o grupo alemão teve na música popular contemporânea é inestimável. Não só inspirou e deu forma a diversas variantes e feitios da música eletrónica como influenciou bastante o pop/rock dos dias de hoje, influência essa que culminou com o uso da melodia de Computer Love, de 1981, num dos singles mais reconhecíveis dos Coldplay (Talk de 2005).
Sonic Youth
Na minha honesta opinião, os Sonic Youth são uma das melhores bandas de rock dos últimos 30 anos. A banda de Kim Gordon e Thurston Moore foi absolutamente pivotal no rock nova-iorquino, começando por ser uma das principais faces da cena no-wave (movimento underground cuja experimentação com sons abrasivos tentava contrastar com a sonoridade demasiado comercial/dançável que algumas bandas de new wave adotavam nessa época) do início dos anos 80 e, à boleia da popularidade do grunge, acabou por ser uma das principais bandas do rock alternativo dos anos 90. Não venderam milhões de discos como alguns dos seus contemporâneos, mas tiveram um papel fundamental no experimentalismo do género.
Captain Beefheart
Já que falamos de rock experimental, é impossível não mencionar o nome de Don Van Vliet, conhecido artisticamente por Captain Beefheart. Entre o final da década de 60 e o início dos anos 80, Van Vliet gravou uma mão cheia de excelentes álbuns, incluindo Trout Mask Replica, produzido pelo amigo Frank Zappa (já presente no corredor da fama desde 1995) e possivelmente o disco mais reconhecido da sua carreira. Inúmeros artistas e bandas continuam a mencioná-lo como uma enorme influência nos seus trabalhos. Um par de exemplos: Tom Waits afirmou que as mudanças artísticas presentes em Swordfishtrombones (e em álbuns seguintes) deveram-se ao facto de a sua esposa o ter introduzido à discografia de Van Vliet e John Frusciante, ex-guitarrista dos Red Hot Chili Peppers, citou Captain Beefheart como uma das maiores influências no desenvolvimento de Blood Sugar Sex Magik, álbum que acabou por lançar a banda californiana para a ribalta e estrelato mundial.
Variadíssimos artistas e bandas ficaram por referir: para além dos nomes mencionados na lista acima, grupos como King Crimson, Motörhead e The Smiths ou bandas formadas mais recentemente como os Smashing Pumpkins, Nine Inch Nails e Soundgarden deveriam receber mais consideração por parte do júri do Rock and Roll Hall of Fame em futuras cerimónias. No entanto, à medida que vários grupos vão ganhando elegibilidade com o passar dos próximos anos (nomes imensamente populares como os Foo Fighters, Radiohead ou Oasis vêm logo à memória), é natural que a instituição de Cleveland continue a deixar passar artistas cujas carreiras e influência já mereciam reconhecimento e entrada no corredor da fama do rock.