Celebra-se a vida e obra do bardo francês no aniversário da sua morte
No passado dia 2 de março contaram-se 25 anos desde a morte do artista francês Serge Gainsbourg. E em poucas instâncias a palavra artista foi tão bem utilizada. Conhecido como cantor, fez um pouco de tudo no mundo da arte. Foi poeta, escritor, compositor, pianista, pintor, ator e até realizador.
Morreu aos 62 anos, graças ao coração que o traiu, precisamente um mês antes do seu aniversário. Mas deixou uma obra incrível que ainda hoje pode ser apreciada, tornando-se numa das mais influentes figuras da música francesa e até mesmo da música popular mundial, sendo ainda hoje muitos os músicos que lhe prestam homenagem. Aproveita-se o aniversário para celebrar a sua obra.
Era filho de emigrantes judeus ucranianos que fugiram para Paris após a revolução russa acabou com eles, durante a sua infância, por viver os tempos horríveis da ocupação Nazi, tempos esses que tiveram um impacto profundo na sua vida e obra. É no ambiente do pós-guerra, inspirado pela poesia e pela pop art da época, que começou com um estilo que unia a chanson francesa ao jazz. Mas a sua música tornou-se muito mais diversa e, a partir de 1964, com o seu sexto álbum, Gainsbourg Percussions, reinventou-se com ritmos latinos e africanos. Em 1968 lançou Bonnie and Clyde, gravado com a sua companheira de então, Brigitte Bardot, em que mostrava a sua obsessão pela América, continuando um périplo musical onde experimentaria de tudo, desde yé-yé e reggae até funk e rock progressivo.
Um pária anacrónico, tido por muitos como um pervertido (imagem que cultivava) e mais falado pelos seus romances com figuras como Bardot e a atriz inglesa Jane Birkin (com quem também gravou e cuja relação deu origem à também muito talentosa Charlotte Gainsbourg), Gainsbourg era um provocador, alguém que usou a revolução sexual iniciada nos anos 60 para abalar o sistema e ir sempre mais longe, subvertendo os limites através da música e da sua imagem.
A sua música tornou-se bizarra, carregada de sexualidade e cheia de jogos de palavras e insinuações. É muito conhecida a canção que escreveu para France Gall, “Les Sucettes” (os chupa-chupas). Não tão infame, no entanto, como a música que gravou com a sua filha Charlotte em 1984, ainda menor na altura, “Lemon Incest”, acusada de glamourizar o incesto e a pedofilia.
Mas o momento mais conhecido do cancioneiro de Serge Gainsbourg até ao dia de hoje é aquela que o mesmo descreveu como sendo a derradeira canção de amor, “Je t’aime… moi non plus”, gravada com Birkin em 1969, em que a atriz simula um orgasmo.
Dois anos depois, viria aquela que será provavelmente a pièce de résistance da sua obra, “Histoire de Melody Nelson”, um álbum de rock conceptual com arranjos de orquestra, composto por Gainsbourg e Jean-Claude Vannier, que descreve uma história de sedução e romance entre um Gainsbourg de meia-idade e uma adolescente que dá nome ao disco, uma espécie de Lolita. Uma peça de enorme influência dentro do trabalho de um artista que tocou inúmeros outros por todo o mundo e várias épocas, como De La Soul, Massive Attack, Portishead (que usaram samples da sua obra) Nick Cave, R.E.M., Belle & Sebastian, Pulp, Beck, e Tame Impala, muitos dos quais o cantaram.
É esse artista que celebramos e podem juntar-se a nós com o best of em baixo.